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Conto, com a Reitora

Estamos todos no tempo do cuidado

Um novo tempo se impõe diante de nós. Passada a Quaresma, adentramos no período da Ressurreição. Quero ater-me a um tema frequentemente em discussão: a prática do jejum (ascese) e sua correlação com a vida, com a doença, com a convalescência. Só lembrando: o sacrifício do jejum somado a horas de oração nos fortalece. Foi assim, por exemplo, com Moisés e Elias, que jejuaram quarenta dias, e com o próprio Cristo, que iniciou com abstinência de igual período o trajeto de sua paixão e morte.

Mas por que falar de jejum agora se esta é uma prática do viver cristão recomendada no período quaresmal que ora se finda? Simplesmente porque a lógica do consumo irrefreável, do satisfazer o corpo custe o que custar tem levado o planeta a uma situação preocupante e que, se não mudarmos nossa conduta, pode se tornar irreversível. O adoecimento da mãe Terra e a relação desta preocupação com o diagnóstico do presente formam o conteúdo da última encíclica do papa Francisco. A Laudato Si é uma exortação pela convalescença da Mãe Terra.

Segundo o papa Francisco, a natureza não pode ser considerada como algo fora de nós, como mera moldura de nossa vida, mas como um organismo do qual nós mesmos fazemos parte, compenetrando-nos (Cf. LS, 139). Como ele diz: “as razões pelas quais um lugar se contamina exigem uma análise do funcionamento da sociedade, da sua economia, do seu comportamento, das suas maneiras de entender a realidade”.

Motivado por Laudato Si e pela Campanha da Fraternidade, que este ano apontou para o considerável déficit do saneamento básico no Brasil e no mundo, intrinsecamente ligado à crise ambiental, quero, não apenas contribuir com as reflexões, mas convidar todos, alunos, professores e funcionários, para também refletir com vistas a uma nova postura perante a criação. A agonia da mãe Terra, sentida nos desastres ambientais de que temos notícias todos os dias, parece, ainda não nos convenceu o suficiente. Continuamos procurando afastar tudo o que possa causar desprazer, desconforto. 

O pontífice busca nas palavras do Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, a justificativa para a importância do jejum em um momento tão alarmante para o planeta. Bartolomeu I alertou para o necessário cuidado com o planeta: “passar do consumo ao sacrifício; da avidez à generosidade; do desperdício à capacidade de partilha, numa ascese que ‘significa aprender a dar’, e não simplesmente renunciar”.

Assim, o jejum preenche seu real sentido: fortalece-nos porque é um modo de amar, de passar pouco a pouco do que eu quero ao que o mundo de Deus precisa. “É libertação do medo, da avidez, da dependência” (LS, 9). Em outras palavras, prescreve um caminho de convalescença para nossa adoentada casa comum, reverberando no conjunto dos que dela mais precisam: os pobres.

Enquanto organismo vivo, a terra tende a se afirmar e a expurgar tudo o que lhe é nocivo. Se não mudarmos nosso modo de proceder, se não soubermos interceptar a lógica agressiva da tecnologia contemporânea, a Terra mesma tratará de nos eliminar... Se não o fizermos por amor, como diz o dito popular, ela nos fará mudar de rota pela dor. Nesse processo, como disse, quem mais tem sofrido são os pobres. Assim, estabelecer uma hierarquia das forças de um corpo (nova lógica) para que ele se torne de novo saudável passa necessariamente pela perspectiva do pobre, que abre um espaço novo para a ascese e nos coloca todos no tempo do cuidado.

Reitor Prof. Dr. Pe Edelcio Ottaviani

São Paulo, 29/03/2016

Imagem de uma mulher branca, loira de cabelos lisos, sorrindo com um fundo escuro.

Profª. Drª. Karen Ambra

Reitora do Centro Universitário Assunção - UNIFAI